terça-feira, 3 de junho de 2014

Sobre espaços vazios, dias chuvosos e você

             






                Olho pela janela, para as gotas grossas contra o vidro translúcido. A fumaça espessa do cappuccino fumegante em minhas mãos embaça a janela, minha respiração pesada me envolvendo com aquele cheirinho gostoso que só uma chuva generosa depois da seca trás.
               Nos fones de ouvido, aquela velha Bossa Nova. Não me leve a mal, meu amigo, meu bom Blues abandonado na playlist intocada, mas saudade é uma coisa que só o Português tem. Em inglês se sente falta, em italiano também, mas saudade, meu velho, isso é coisa nossa.
               Deito, rolo, me reviro e desisto. Desisto porque meu travesseiro ainda tem seu cheiro de couro e shampoo. Desisto porque eu, a garota que sempre teve horror a conchinha, sinto falta do seu corpo quente ali ao lado do meu, dos seus dedos insistentes que sempre buscam os meus debaixo do edredom, de afogá-lo com meus cachos indomáveis, que não impedem aquele encaixe que é tão certo.
                 Sinto falta daquele seu '' Não se preocupe, eu estou aqui'' sussurrado e breve, dito como um segredo guardado a sete chaves que você escolheu compartilhar comigo. Sinto falta daquele seu olhar de lado, fugidio. Suspiro, viro de lado, suspiro. Penso que no lugar daquele seu sorriso debochado, que me devora, que me adora, que me consome, agora há um espaço vazio. E eu, a mulher dos lábios vermelhos e olhar que desafia, da mochila nas costas, caneta na mão e a resposta sempre na ponta da língua, aquela que debochou de romantismo e da bobagem dos finais felizes, rende-se completamente à ele. É necessário coragem para se permitir ser vulnerável, espero que você entenda um dia.
                  Ouvi uma vez que a graça do objetivo está na jornada. Então aproveite-a, por que eu o fiz. E finais felizes não são, afinal, finais. São começos, vírgulas, ponto e vírgula, de interrogação e às vezes exclamação. Tivemos finais felizes, muitas e muitas vezes. Há beleza até mesmo na simplicidade da luz amarelada de um poste através do vidro, e assim como o amor, e saudade precisa ser sentida.

                                             

Nenhum comentário:

Postar um comentário