domingo, 22 de novembro de 2015

Surpreendente!


O que nos leva a escolher um livro, entre tantas opções, naquele oásis de histórias que lutam pela nossa atenção em uma livraria? O que faz com que um deles capture nossa atenção e nos faça leva-los para casa? É sempre uma decisão muito pessoal, mas, ao menos para mim, o que me leva a escolher um livro é uma série de fatores.
                Primeiramente, a livraria de escolha. Nesse caso em especial, escolhi a livraria Fnac, por seu amplo número de opções, e, honestamente, pelo seu delicioso cappuccino. Ao entrar na livraria, fui nocauteada por cores, cheiros, sons. Cada livro com sua peculiaridade. Contrariando aqueles que dizem que não se julga um livro pela capa, meu primeiro instinto é selecionar as capas que, por alguma razão, me conquistam imediatamente. Em minha opinião, a capa de um livro diz muito sobre ele, seu gênero, seu público alvo. Após selecionar as capas de escolha, parto para a análise do título. Honestamente, acredito que o título, por si só, já deva dizer algo sobre a história. Se o título não me conquistar, parto para o próximo sem hesitar. Dos títulos escolhidos, analiso então a sinopse, procurando por algum elemento com qual possa me conectar. Se a sinopse me ganhar, leio a primeira página do livro, por que grandes histórias te ganham no primeiro parágrafo. Por fim, quando o livro já foi escolhido, espio as orelhas em busca de informação sobre o autor.
                Gênero não é uma parte definitiva da minha decisão. Gosto de romances, principalmente, mas me sinto quase igualmente atraída por histórias de suspense, horror, chick-lits, sick-lit, aventura, fantasia, clássicos, poesia. Acho que cada tipo de história merece ser lida, e não tenho preconceitos. Encho a boca com igual orgulho para falar do meu lindo exemplar de Grandes Esperanças, de Charles Dickens, e do meu exemplar de A Culpa é das Estrelas, best-seller do John Green.

                Nesse dia em especial, muitos livros me chamaram a atenção, mas três se destacaram. Foram eles: O dia em que o vento parou, Jack, o Estripador em Nova York e Surpreendente. Dois romances e um suspense de detetive. Por fim, o livro que me ganhou foi Surpreendente, do autor Mauricio Gomyde. Três razões me levaram a comprar esse livro sem pensar duas vezes: A primeira foi que o livro conta a história de um jovem cineasta que decide viajar em seu Opala para filmar um curta-metragem. Sou ardentemente apaixonada pela estrada, por viajar, seja de avião, de carro ou de carroça. Histórias sobre viagens geralmente me ganham logo de cara. A segunda razão foi que a viagem de Pedro é pelo Brasil, até Pirinópolis. Acho que livros incríveis estão surgindo na nossa literatura, livros atuais, bem escritos, e, graças aos céus, destinados ao público jovem, e isso deve ser valorizado. Nada contra Capitu, linda dama de olhos oblíquos, mas está mais que na hora da literatura brasileira ser reconhecida por algo além dos seus clássicos. E a terceira razão, por mais trivial que possa parecer, foi a curiosidade incontrolável de descobrir qual a conexão com o colar de olho de águia na capa, que parece me perseguir nos pescoços de cada garota com estilo e atitude ultimamente, como se elas estivessem me dizendo que esse livro é imperdível. 

domingo, 4 de outubro de 2015

A garota com a mochila

Quando eu era uma garotinha e me perguntavam o que eu queria fazer da vida quando eu crescesse, minha resposta era bem simples: Quero viajar. As pessoas balançavam a cabeça com aquele olhar condescendente com o qual normalmente olham para as crianças e sorriam, como se eu tivesse dito a coisa mais boba do mundo.
                Conforme os anos passavam, as coisas mudavam, os cabelos cresciam, os amores se acumulavam, os sorrisos se multiplicavam, as dores passadas se dissipavam no tempo, e a infância era deixada para trás, eu mudei, mas aquela vontade, aquele impulso quase incontrolável de me entregar ao mundo nunca me deixou. As bonecas nas prateleiras foram substituídas por um mapa na parede, por fotografias de um mundo inteiro à ser explorado.  Sempre houve algo de inquieto, quase selvagem dentro de mim, que implorava para que eu vivesse, para que jogasse uma mochila nas costas e saísse sem rumo.
                Hoje, eu sei que esse desejo nunca vai embora.  Na verdade, ele apenas cresce. Cresceu desde a primeira vez em que entrei em um avião, ouvi a voz mecânica do piloto flutuar dos alto falantes e ecoar pelas janelas minúsculas. Cresceu quando eu finalmente descobri que nada se compara à visão das nuvens vistas de cima, uma massa magnífica que deixa de ser céu e passa a ser um tapete mágico contra o azul insano visto dali, daquela pequena janela.
                Cresceu quando eu coloquei os pés em uma avenida estreita, cheia de energia e cheia de vida que levava ao meu hotel no Rio de Janeiro. Cresceu quando naquele mesmo dia eu desci aquela mesma avenida de mãos dadas com um belo e doce garoto que seria um romance intenso e único pelos próximos três dias. Cresceu quando eu beijei aquele mesmo garoto na praia de Copacabana, a areia nos dedos, o odor do oceano e a brisa levantando meus cabelos.  Quando ele sussurrou, baixinho e maravilhado um ‘’ Você é linda’’ sob as luzes na cidade, que se refletiam no oceano escuro àquela noite. Cresceu até mesmo quando eu subi a escadaria de um prédio antigo com aquele romance passageiro, o prédio onde ele trabalhava, e nós observamos abraçados a cidade à nossa frente, com seus morros altos e sua beleza única.
                Descobri que poucas coisas são mais excitantes que ver as curvas sinuosas da montanha se curvar enquanto o carro faz seu caminho árduo pela floresta, subindo até o Cristo Redentor. Descobri que não há nada melhor do que olhar aqueles braços abertos que parecem abraçar o mundo e respirar fundo aquele ar rarefeito lá em cima. Descobri que não há nada mais pacífico que caminhar por aquelas praças peculiares do centro, ouvindo um artista de rua tocar seu violino. Descobri que às vezes, prédios antigos e pequenos podem ser muito mais bonitos que os aranha céus nas cidades grandes.
                E não foi só com o Rio que eu aprendi. Aprendi nas fazendas de Minas Gerais que o céu longe das luzes da cidade é a coisa mais deslumbrante que eu já vi e que jamais verei. Aquele céu tem o poder de te paralisar completamente, e eu sei, olhando para ele, que se existe um Deus, é lá que ele se encontra. Descobri também, nos confins daquela cidade pequenina, que não há comida mais gostosa que comida mineira, sotaque mais caloroso ou sorriso mais sincero. Descobri que, às vezes, encher a cara até cair e dançar ao som do locutor conduzindo um rodeio faz bem para a alma e para o coração, mas nem tanto para o seu fígado.
                Aprendi, ainda, que a Avenida Paulista no Natal se ilumina como que por um passe de mágica, que aquelas luzes intensas e magníficas podem te deixar de boca aberta. Descobri que há uma energia quase insana nas grandes cidades, com todas aquelas histórias se cruzando uma com a outra, com as pessoas apressando-se de um lado para o outro, me fazendo imaginar para onde elas correm.
                E ainda há tanto a se aprender. Tanto a conhecer. Quero pular de asa delta do alto da pedra da Gávia, quero ver a Torre Eiffel se iluminar, e talvez beijar um estanho que eu nunca mais vá ver em frente ao Coliseu. Quero conhecer as cidades que inspiraram grandes autores, dançar até cair em um clube qualquer em Londres. E essa é a magia da vida, há todo um universo me esperando, basta ir até ele.